quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Todos os caminhos levam a Roma

Imbuída de um sentimento coletivo e de origem desconhecida, aos 10 anos decidi que minha Barbie precisava de um marido. Não bastavam os vestidos feitos pela minha mãe, ou comprados na feirinha. Minha Barbie precisava de mais um acessório: o Ken.

O que foi feito de esforço para conseguir aquele boneco não se mede em palavras, mas finalmente ele chegou. Trouxe segurança e companhia a minha boneca, cansada de dormir sozinha na estante, e uma estranha sensação de que os problemas advindos da solidão acabavam na companhia, constante e infinita, de um esposo.

Hoje, já um tantinho mais vivida, começo a desconfiar de que as meninas nascidas de um bom tempo pra cá são mais ou menos “predestinadas” a acreditar no casamento.

Casamento: uma junção de pessoas e valores, e, provavelmente, uma das mais antigas instituições da humanidade.

Confesso que esta “predestinação”, com muitas aspas, tem se parecido muito mais com uma forma encontrada por algumas mulheres - atualmente, tão confusas com seus próprios estados interiores - de não se sentirem sozinhas, de terem seus desejos de atenção e prazer atendidos, ou uma busca desesperada por uma felicidade que ela própria não consegue mais enxergar em sua inata existência singular.

Não há como negar que muitas acreditam realmente sentir amor aos seus cônjuges, e desejarem dividir suas experiências com seus parceiros (as).

Mas com tantos casos de divórcios, separações, traições, crimes passionais, ou mesmo, o famigerado medo do comprometimento e da responsabilidade que aumenta, ao fazer parte desta instituição, duas possibilidades me ocorrem de forma instantânea: ou estamos bem confusos com o que chamamos de amor, ou estamos desesperadamente assustados com o fantasma da solidão!

Eu, Paloma, ainda acredito no casamento. Ainda acho que existam homens e mulheres que, longe dos mesquinhos desejos materiais e físicos, sintam algo que vai ainda além da entrega a outrem. Pessoas que creem que, sozinhas, são inteiras, completas, mas que sabem que o amor, finalidade única de uma união afetiva, exista também no encontro com outra pessoa, com suas características próprias, e que ambas somarão a felicidade das duas. São estradas paralelas, com automóveis que andam para a mesma chegada.

Não que o matrimônio seja a salvação, mas o amor, em sua verdadeira plenitude – se é que ainda merecemos senti-lo – não só serve de base, como orienta para as ações, aquelas que trazem uma sensação sincera e quase palpável de harmonia com o mundo, por mais perdido que ele pareça!

Aí no meio do texto você pensa com sarcasmo: “- Muito romantismo...”.

Aí eu te escrevo que o amor a que me refiro aqui, passa há anos-luz de distância deste conceito meloso e fraco que muitos acreditam sê-lo. E digo o mesmo do casamento!

O amor é forte, e não sempre simpático e agradável aos olhos dos outros. O amor sincero de um pai, por exemplo, está em advertir seu filho sobre os perigos, sobre as atitudes que carregam em si mais possibilidades de erros e sofrimento, e definir limites necessários para seu bem, enquanto não atingir maturidade e discernimento para agir sozinho. Mas também está em estimulá-lo a ser capaz de se perceber como sujeito atuante, a tomar iniciativas e desenvolver habilidades.

Um verdadeiro amigo, que tem verdadeiro amor, não estará sempre ao seu lado, caso você opte por uma vida inconstante, negativa, e que te acarrete dor. Ele pode até estar lá, possivelmente, alertando sobre seu estado, buscando seu bem estar, mas nunca participando dos atos.

Um homem que ama verdadeiramente uma mulher, numa relação amorosa, não a prejudica, não lhe causa dor, a não ser, nesses fios doidos e intrincados que ligam a gente por aí... Mas ainda assim, quando há algum obstáculo, algum nó, e ambos sentem algo forte e sincero, pode ser que isso sirva para que amadureçam e tornem-se ou uma mulher ou um homem melhor. E isso independe de continuarem sendo parceiros ou não.

Todas as possibilidades têm como melhor ponto de fuga o amor, quando verdadeiro. Um sentimento incomparável e o único capaz de guiar um casal de forma harmônica e saudável por esta vida, e que transpassa, mesmo as relações mais trabalhosas. Porque casar e conviver dia após dia com uma mesma pessoa e todas as suas mudanças no decorrer do tempo, exige, definitivamente, muitíssimo esforço! Que não seria exigido das partes envolvidas se não houvesse um sentimento verdadeiro que os impulsionasse.

O que se tem chamado de amor, a meu ver, são uma série de sentimentos confusos de medo e carência. E não há nada mais cruel do que esse tipo de covardia, mascarada pela necessidade física, falsamente afetuosa e exagerada. Ela é cega, vil, frágil, e mesmo assim capaz de causar muito estrago. E o pior, não mostra a verdadeira personalidade daquele que se esconde sob ela. Isso, realmente, não me parece amor.

Se o amor fraternal, paternal, maternal, amigável, amoroso, tem a intenção de sempre levar os envolvidos a um bem estar, mesmo que não imediatista, porque não acreditar que, sim, vale a pena entregar-se de corpo, alma e vida a outro que faz o mesmo, conscientemente a você?

É claro que às vezes é um pouco complicado perceber o grau de envolvimento de outra pessoa dentro de nossas vidas, mas para isso, homens e mulheres são munidos, de nascença, daquela voz sutil que bate, teima, sugere, alerta de fininho ou berra nos nossos ouvidos: a intuição!

O amor é um objetivo, um farol que orienta. Como uma casa estilo mansão imperial, confortável, mas que exige limpeza, cuidados e manutenção. O amor assegura ao homem a certeza de que a sua existência já é algo muito lindo e importante, para ele próprio, seguir em frente. E para essa outra pessoa que o completa, isso também será um sentimento impulsionador, de alegria, de motivação para suportar as dificuldades, resolver os pepinos e abacaxis de uma relação, e saborear, com todos os sentidos, uma união leal, fiel, sadia e respeitosa.

Assim, como em tempos remotos quase todos os caminhos levavam a um único império, hoje, os nossos caminhos também nos levam a algum lugar. Mas as estradas estão bem mais entulhadas e com um horizonte turvo. Por pedregulhos, restos de brigas, guerras, rancores, estilhaços de terceiros, armadilhas e tudo o mais que podemos, ou não, imaginar. Mas saiba que, solteira (o) ou casada (o), o amor sempre conduz as coisas para os melhores destinos, para os grandes impérios. Indestrutíveis...

Por: Paloma Portela

Nenhum comentário:

Postar um comentário