quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Alicerce

As arquitetas e os arquitetos talvez me compreendam mais rapidamente em relação aos outros, mas em quase toda vida humana se empreende uma obra (péssimo trocadilho...).

Em algum momento da nossa existência iniciamos construções, reformas, às vezes até muros de pedra sobre barranco puro, virgem e rígido.

Derrubamos árvores antigas com o pesar de quem, intuitivamente, sente que inicia pelo passo errado.

Arrancamos asfaltos esburacados, quebramos pisos, deslocamos móveis... Criamos entulhos sem local definido para nos desfazermos destes.

Muito escrevo nos meus textos sobre mudanças. Quase sempre internas, raízes das externas. E estas, por sua vez, nos moldam perante a vida. Quando a sabedoria chega, nos torna inteiros, sem fronteiras entre o que somos, o queremos ser e em como o outro nos, verdadeiramente, enxerga.

Interesso-me pelo tema porque não conheço homem ou mulher (maravilha) que tenha alcançado a almejada sabedoria, maturidade e paz de espírito que tanto sinto necessidade. Mas neste ano, perdida entre confusões e balanços, concluo que estive com pessoas (homens e mulheres-maravilha) que buscaram, pelo menos, empreender tais obras e, claro, externaram seus sonhos, suas alegrias e dificuldades, dividindo comigo experiências e encontrando caminhos.

Tive este privilégio! E esse foi um dos meus trunfos neste ano que finaliza. Apenas um destes anos, entre os outros de minha vida, em que pude viver justamente pela e para a felicidade de não temer mudanças, tendo como apoio o cuidado por si, e a atenção amorosa daqueles que, em algum momento, me inspiraram a derrubar paredes ou trocar portas.

Não vivi vidas alheias, não sonhei a vida destes para a minha. Agi de forma diferente com os instrumentos usados nessas empreitadas, que resultaram em conclusões novas para o que, até aqui, tenho capacidade de enxergar, pisando com segurança sobre cada pedaço de chão que me suporta e que me serve de parâmetro para que nunca me esqueça das origens e limites que tenho.

Fiz isso como mulher, tentando, muito insatisfatoriamente, descrever pensamentos nesses textos, cheios de incoerência e muitos erros gramaticais e ortográficos (obrigada, Carolzita, pelas revisões!); escolhendo cada vez melhor minhas companhias; afinando uma beleza mais gentil e cuidadosa, menos frívola; alimentando uma chama interna que aquece e queima mesmo nos dias mais solitários; uma tranquilidade, que não é transcendental, mas, realista e comum. 

E nada ainda pareceu, nem de perto, ser o suficiente. A cada novo ano, dia, um novo defeito grotesco descoberto! Uma mania irritante, uma impaciência nos períodos de TPM, choros guardados, dores que não se fecham, temores e sentimentos intuitivos de alerta que causam ainda mais temores... Porque nem só de flores pode se levar a vida... Até poderia, mas não estou – ainda – apta para isso.

No entanto, não somente de obras e desconstruções se vive. Mas elas são cada vez mais urgentes, pelo que observo sobre o mundo e todos nós, ano após ano.

Será que já vivemos (e levamos para dentro de cada um de nós) tanto vácuo como agora, em relação a outros tempos? Tenho a impressão de que, cada vez mais, carregamos espaços vazios, segundos efêmeros, desperdiçados com as mesmas idiotices de sempre...

Espero que o novo ano, já tão breve, como todos os dias atuais – brevíssimos – traga muitas obras para todos. Repensar atitudes, realizadas ou não, horas jogadas ao léu, pessoas que foram descartadas pelos sentimentos mesquinhos de corações áridos e solitários, mais apego ao humano e desapego ao mundano, lealdade espontânea ao invés de fidelidade cega, mais perdão, inteligência emocional e menos submissão e fúria.

A humildade e a coragem em suas lutas são como capacetes em campos de obra.

Boas reformas!  

Por: Paloma Portela

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